EF: Sim cada vez mais existem jogadoras portuguesas lá fora, mas isso é positivo, é sinal que existe valor nas nossas jogadoras. Tenho pena que o nosso campeonato e os nossos clubes não consigam manter essas atletas, mas é a realidade do nosso futebol feminino em Portugal neste momento. Fui uma das pioneiras e ainda bem que o fiz, abri muitas portas para que hoje em dia seja muito natural saírem jogadoras de Portugal para jogar nas melhores ligas da Europa ou do Mundo. Sinto-me orgulhosa por isso e por ver que a nossa seleção também ganha com essas jogadoras lá fora, espero que continuem a sair mais. Mas o meu desejo é ver estas jogadoras todas de nível e com valor, jogarem no nosso campeonato e assim darem mais competividade e qualidade ao nosso futebol feminino em Portugal.
MT: Que conselhos daria as jogadoras mais jovens que sonham jogar no estrangeiro?
EF: O conselho é que continuem a trabalhar, a ter espirito de sacrifício, que saibam estar neste mundo do futebol feminino, que tenham muita paciência, que tentem sempre estar perto de pessoas que lhe aconselhem bem, que não se precipitem, que respeitem os clubes, as colegas, que exijam cada dia mais e mais de si próprias e principalmente nunca percam de “vista”, nem desistam da realização de um sonho, o de um dia ser profissional de futebol e viver exclusivamente daquilo que mais amam fazer.
MT: A Edite pela sua conhecida carreira é um dos maiores símbolos do futebol português, pela sua importância, experiencia e caracter, aceitou o nosso convite para fazer parte da Montra de Talentos e é uma das caras deste projecto. Porque aceitou associar-se a Montra de Talentos?
EF: Decidi fazer parte deste projecto porque me pareceu algo fiável, com garantias e acima de tudo é um projecto que quer que o futebol feminino em Portugal evolua. Demonstra através das atletas que fazem parte da Montra de Talentos, algo em que se pode confiar. Espero sinceramente que seja uma forma de dar a conhecer as nossas atletas Portuguesas e que tenha uma forma limpa e correcta na divulgação do nosso futebol feminino. É destes projectos e destas pessoas que fazem parte, que precisa o futebol feminino em Portugal.
MT: A Edite também foi convidada para assumir alguns cargos de responsabilidade na Montra de Talentos, mas a sua carreira e a forma profissional como encara os desafios não permitiu aceitar neste momento. Como reagiu a estes convites?
EF: Sinto-me lisonjeada por a Montra de Talentos se ter lembrado da minha pessoa,mas como foi referido antes, não poderei aceitar para já este desafio. Ficará para futuro o trabalho em conjunto. Mas continuarei a estar disponível na mesma para ajudar e apoiar o futebol feminino Portugues e este projecto.
MT: A Montra de Talentos aposta exclusivamente no futebol e futsal feminino e conta com apoio das melhores jogadoras de Portugal, incluindo as duas capitãs das respectivas selecções, a Rita Martins e a Edite Fernandes. O que acha desta aposta no feminino da Montra de Talentos?
EF: Acho que deverão aparecer mais pessoas e mais Montras de Talentos a apostar no futebol feminino em Portugal e nas nossas jogadoras portuguesas, só assim todos juntos poderemos chegar longe.
MT: Que contributo com este tipo de iniciativas e com os vossos exemplos podemos dar as jogadoras mais jovens com esta união total entre o futebol e futsal feminino?
EF: Aqui o mais importante é evolução do futebol feminino em geral, não faço uma distinção do futsal ou futebol 11, o trabalho em conjunto por vezes traz evolução.
MT: Recentemente a Carla Couto, sua colega da selecção e amiga foi transferida pela Montra de Talentos para a Lazio de Roma. A Carla Couto é a jogadora mais internacional de sempre e também um símbolo, o que acha desta nova aventura da Carla?
EF: Acho que a Carla merecia esta oportunidade de novo de estar a jogar numa das melhores ligas da Europa e num dos melhores clubes. A Carla não só é distinguida por ser a mais internacional, mas sim por ser um dos exemplos para todas(os) nós. É uma excelente jogadora, com qualidades técnicas acima da media, com uma longa experiencia nacional e internacional e grande ser humano. Merece que esta sua nova aventura seja de muito sucesso e que continue a dar-nos o gosto de a ver a jogar na nossa seleção. É UMA GRANDE AMIGA.
MT: Qual foi o pior e o melhor momento da sua brilhante carreira?
EF: Não tive pior momento graças a deus,(que me lembre não),mas tenho um jogo que me recordo que “sofri” muito e senti-me “impotente”, há muitos anos atrás um jogo contra a Alemanha e que perdemos 13-0, marcou-me negativamente. Até hoje acho que é a parte mais negativa da minha carreira. O melhor momento, não sei, porque tive muitos momentos bons, destaco a primeira internacionalização como mais emocionantes, mas acho que o melhor ainda estará para vir. ;) Tenho fé. Acredito!
MT: A gestão da sua carreira destaca-se por uma gestão mais profissional, tem a sua página de atleta o facebook, tem o seu blog pessoal: edite-fernandes.blogspot.com, fez um spot publicitário para a Mcdonals e dá várias entrevistas, não acha que as restantes jogadoras deviam ter uma gestão mais cuidada das respectivas carreiras? Pouca ou nenhuma informação se encontra de várias jogadoras portuguesas, algo que a Montra de Talentos também quer mudar.
EF: Sim, eu acho que deviam ter uma imagem mais cuidada, deveriam ter uma gestão diferente, mas aí depende dos objectivos que têm e o que pretendem do futuro. Acho que a Montra de Talentos poderia ajud
ar e apoiar algumas atletas que estivessem interessadas a uma diferente gestão da carreira, sem dúvida haveria melhorias.
MT: Quais são os seus objectivos a curto, médio e longo prazo?
EF: Muito fácil, um dia de cada vez... e enquanto o telemóvel tocar é bom sinal. Coisas boas para o futuro. Mais não digo. ;)
MT: O que gostava de fazer quando terminar a carreira, algo que desejamos que só aconteça daqui a muitos anos?
EF: Não sei, ou melhor sei, mas não quero pensar nisso. Gostava de ficar ligada ao futebol e ter um estabelecimento de hotelaria, mas até lá ainda tenho tempo para pensar e preparar o futuro. ;)
MT: Quer deixar uma mensagem final para todas as jogadoras ou para as que querem jogar mas por algum motivo ainda não tiveram coragem?
EF: A mensagem é simples, não desistam nunca do vosso sonho. Acreditem que é sempre possível chegar longe.
MT: O que dizem os seus olhos?
EF: Eu cheguei longe! E sou feliz.